Como falar no púlpito


Outro dia estive visitando uma congregação e tive o desprazer de assistir a um orador bastante entusiasmado. E quando digo entusiasmado, entenda-se barulhento. Curiosamente, este pregador a princípio falava baixo com certo sotaque, mas de repente aumentava seu tom de voz exponencialmente, surpreendendo a todos. Depois de certo tempo, talvez ao perceber quanto incômodo estava provocando, este orador começou a afastar o microfone de sua boca quando decidia aumentar a voz, algo que não ajudava muito. Confesso que, apesar de o sermão ter um conteúdo razoável, saí de lá com dor de cabeça.

Isso me fez pensar: Haveria uma maneira ideal para a pregação ou a oratória? No sermão da montanha (que está relatado em Mateus 5 – um grande exemplo de oratória, tanto no conteúdo, quanto nos meios utilizados para pregar), será que Jesus gritava para que fosse ouvido? Já que a pregação é uma forma de ensinar sobre as mensagens da palavra de Deus, será que Ele pode ser apresentado de forma barulhenta, quase ensurdecedora? Sabendo que “a fé vem pelo ouvir” (Rom.10:17) quais deveriam ser os cuidados com aqueles que usam as palavras para falar do amor de Deus?

A princípio, vale refletir nas formas que Deus se utilizava para manifestar a sua presença ou a Sua voz. Segundo I Reis 19:11,12, Deus se manifesta nas formas mais tranquilas e suaves possíveis. Quando Elias esteve esperando uma resposta do Senhor, passou um vento forte que separou os montes e esmigalhou as rochas diante do Senhor, mas Ele não estava no vento. Imagine que vento barulhento deve ter sido esse para causar tamanho desastre! Depois do vento houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto. Depois do terremoto houve um grande fogo, mas o Senhor não estava nele. Quanto ao terremoto e ao fogo, nem preciso comentar como devem ter sido barulhentos. Pois bem, passou-se todos estes fenômenos, mas não foi no meio deles que o Senhor estava. Até que houve um murmúrio de uma brisa suave. Era a voz mansa e delicada do Senhor. Percebe? Manso e suave. Essa é a forma ideal, a maneira exata pela qual Deus se revela e pode ser apresentado. Exatamente o contrário de pregadores que se dizem “ministros da Palavra” ou até “ministros do evangelho” mas que gritam apelando a mentes inseguras esperando uma “conversão”. O contrário também de “igrejas” que fazem o maior escândalo com pregadores entusiasmados, como o que eu citei inicialmente, ou com músicas recheadas de baterias ensurdecedoras (note que a crítica vai ao barulho, não necessariamente aos instrumentos) e pior ainda quando não acham o barulho do pregador suficiente e decidem falar ao mesmo tempo em uma linguagem realmente estranha, estranha principalmente aos céus. Isso não passa de um mau testemunho aos ouvintes visitantes na congregação e aos vizinhos que muitas vezes não tem nem como escapar da verdadeira zoada.

Como seria bom se todos os que me vieram à mente neste momento pudessem ler esse post. Aconselharia, além de tudo que já foi escrito, a ler também o que está em Romanos 10:9,10: “Se com tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação”. Percebe a importância de saber falar de forma correta e elegante? Com a boca se faz confissão para a salvação!

Isso me fez pensar mais além. Muito mais do que revelar técnicas mecânicas e psicológicas para o uso da voz, recomendadas para oradores e cantores (que poderei publicar posteriormente), gostaria de me concentrar em aspectos simples, acessíveis e essenciais no último verso bíblico mencionado.
Além dos cuidados na maneira de falar, Paulo aqui se refere à coordenação, mais que isso, à confissão feita pelos lábios daquilo que está no coração, ou seja, com a nossa boca (e por que não com o tom que utilizamos) anunciamos e testificamos a salvação que está dentro do coração. Só o que vem do coração realmente pode alcançar outro coração. A escritora Ellen White diz o seguinte, em seu livro Mente, Caráter e Personalidade, p. 579: “Deveis ser cuidadosos quanto ao que dizeis, pois as palavras que pronunciais mostram que poder está controlando vossa mente e coração. Se Cristo reina em vosso coração, vossas palavras revelarão pureza, formosura e fragrância de um caráter moldado e modelado por Sua vontade.”

Outro ponto fundamental a se pensar é naquela passagem que relata quando Pedro seguia a Jesus de longe pouco antes à Sua crucifixão (Marcos 14:66-72). Em determinado momento alguém disse que ele também era um dos seguidores de Jesus, porque a “sua fala lhe denuncia”. Note que a vivência com Cristo não só lhe mudou as palavras, como a tonalidade da voz e a forma de se expressar, além de posteriormente ter lhe transformado a personalidade de rude e desbocado pescador em apóstolo.

Podemos concluir então que nada melhor do que conviver com Cristo para saber como expressar aos outros a Sua vontade e Seus ensinos. Essa vivência transforma nosso falar. Nos aplica as técnicas essenciais para uma boa oratória. E é isso que todo o orador precisa saber e fazer: viver com o Mestre sobre o qual ele pregará. Encerrarei parafraseando Mateus 12:34: A boca fala do que está cheio o coração e com qualidade de expressar do que nele está contido. É inevitável. Também pela oratória podemos ser (re)conhecidos (ver o post “Como você é (re)conhecido”). Se vivermos com o Mestre nossa oratória será a mais equilibrada e da melhor qualidade possível, se não, o oposto também é verdadeiro: desequilíbrio, barulho, resultando em dor de cabeça e confusão. Pense nisso e que o Senhor o habilite!

P.S.: Recomendo a série de volumes da obra Sermões, de Rodolpho Cavalieri, da Casa Publicadora Brasileira (CPB).

(Henderson Rogers)