Esse é um dos textos mais complicados de todo o Antigo Testamento. Para os leitores modernos das Escrituras, o texto não parece fazer diferença alguma para a vida no século 21. Neste artigo, faremos duas perguntas a esse texto: (1) Qual o seu significado?; e (2) Qual o seu valor para um cristão, nos dias de hoje?
Sobre o significado, muitos pesquisadores têm feito comentários. A maioria esmagadora deles afirma que essa passagem está se referindo a um antigo ritual de culto dos cananeus. A base para essa afirmação é um tablete cuneiforme encontrado nas ruínas da biblioteca da cidade de Ugarit, em 1929, pelo arqueólogo francês Claude Schaeffer. Trata-se de um documento do século 14 a.C., isto é, de 1300 a.C.
O problema dessa interpretação é que esse tablete ugarítico está muito danificado. Isso significa que Charles Virolleuad, o então responsável pelas antiguidades descobertas em Ugarit, interpretou as palavras isoladas que estavam escritas nele. Conclusão: a passagem bíblica e o texto de Ugarit muito provavelmente não estão falando da mesma situação, o que torna essa explicação pouco satisfatória.
Por outro lado, Jacob Milgrom, um dos maiores especialistas em Levítico e em rituais de purificação no Pentateuco, e que lecionou por muitos anos na UCLA, em Berkley, defende a ideia que o texto tinha objetivo didático para o povo de Israel. Ao cozinhar um animal no leite de sua mãe, o alimento utilizado para manter a vida do animal estaria sendo usado para oferecer a morte ao mesmo animal. A morte de um cabrito, ovelha ou qualquer outro animal no sistema de sacrifícios dos israelitas era inevitável, mas não deveria ocorrer nos primeiros meses de vida da vítima.
Assim, Deus tinha como objetivo ajudar os israelitas a diferenciarem vida e morte, o que, diga-se de passagem, era difícil já que os israelitas estavam impregnados com conceitos egípcios de vida após a morte. Devemos lembrar que os israelitas permaneceram por mais de 400 anos no país dos faraós, um povo que tinha noção diferente sobre vida e morte, como expresso nas Escrituras. Somado a isto, os vizinhos de Israel e os antigos povos de Canaã também apresentavam um retrato distorcido sobre o mundo dos mortos.
Qual o valor do texto? O ensinamento bíblico é claro: do ponto de vista humano, não há como tratarmos a morte com bons olhos. A morte sempre será estranha naqueles que nasceram para ter a vida eterna. Por outro lado, não são poucos os filmes, livros, novelas e revistas que querem retratar a morte como amiga, e não inimiga. A crença na vida após a morte como tem sido apresentada na mídia pode ser popular, mas não é bíblica. Vida após a morte será uma realidade quando Jesus Cristo voltar e devolver a vida aos que morreram crendo nEle. Não uma vida qualquer, mas, sim, a vida eterna. Espero que eu e você a recebamos naquele dia.