Verborrágico e polêmico. Essa é a imagem que deixa de si mesmo Christopher Hitchens, autor britânico falecido na última noite de quinta-feira (15), aos 62 anos. Desde Julho Hitchens lutava contra o câncer no esôfago. Ontem, uma pneumonia relacionada às complicações da moléstia vitimaram o jornalista e escritor, autor de dezenas de títulos.
A carreira de Hitchens se iniciou pela década de 1970. Apesar disso, ele se tornou mundialmente conhecido graças ao seu livro Deus não é grande. Seu ateísmo militante causou barulho, apesar de muitas de suas críticas não irem a fundo nas questões. Como Dawkins, outro famigerado ateu, Hitchens sofria de cegueira histórica e limitações filosóficas, além de estar em desvantagem ao próprio Dawkins em termos de conhecimentos científicos.
O último projeto editorial do autor, 'Hitch-22', talvez sirva para esclarecer um pouco mais seu antagonismo contra a religião. A fúria de Hitchens conseguiu adeptos em uma época em que a religião mostrou seu lado mais catastrófico, como vimos no atentado às torres gêmeas (2001). Sem dúvida, isso deu munição a ateus inveterados para argumentar que toda religião é potencialmente má, uma crítica que parte de generalização infundada e preconceito imedido.
Em sua morte, as principais publicações internacionais saúdam o escritor pela sua coragem e ousadia, como se isso fosse meritório em si. Não questiono as qualidades de Hitchens; porém, dizer que ele ter seguido suas convicções até o extremo, pouco significa. Se um doido saísse pela rua alegando ser Napoleão, ninguém teceria semelhante elogio! Seguir as convicções não pode estar acima do compromisso com a verdade. E tal postura inclui capitular diante das evidências e estar disposto a fazer um retorno filosófico. Se Hitchens possuía essa abertura, não o posso afirmar. Em sua morte, só posso agradecer seu esforço por questionar a Deus. Afinal, o que ele conseguiu com suas proezas enfezadas foi dar margem a seus críticos para ressaltar, com mais lucidez e embasamento, justamente o contrário: Sim, Deus é Grande.