A vulgarização do sexo




A liberação sexual em curso no século 21 é única na história da humanidade. Pessoas de todas as idades e classes sociais têm acesso a uma quantidade cavalar de informações sobre o assunto – e à prática propriamente dita. Como reflexos dessa realidade, podemos perceber algumas importantes tendências, como a gradativa redução da idade para a iniciação sexual e a descoberta, pelas mulheres, de que o prazer pode ser desvinculado do compromisso afetivo.

“As mulheres têm buscado cada vez mais descobrir o prazer, ficaram mais exigentes e procuram uma prática com mais qualidade. Essa busca se espelhou, neste começo de século, nos homens, que eram o paradigma mais próximo. Elas começaram a fazer como eles, aumentando a prática sexual sem relação afetiva”, diz a psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e fundadora do Projeto Sexualidade, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. “As mulheres descobriram que sexo é muito bom e que elas podem também aproveitar somente o momento. Que o cara que está ali com ela não precisa ser necessariamente seu namorado dali para a frente e aquele ato não existe somente para fins de reprodução”, diz Carmita.

Autora do livro O Descobrimento Sexual do Brasil (Summus, 2004), Carmita aponta a redução da idade de iniciação sexual como uma das principais revoluções dos próximos anos. “Aumentou muito o número de adolescentes que se iniciam rapidamente no sexo com outros adolescentes na mesma idade. Caiu aquela velha história de os homens começarem na vida sexual com prostitutas mais velhas”, afirma Carmita. “O fundamental, nesse caso, é que ambos tenham uma educação perfeita sobre o assunto, que saibam o que estão fazendo e suas conseqüências.”

Os jovens estão se expondo ao sexo cada vez mais cedo. O ato sexual, muitas vezes explícito, está ao alcance dos olhos de qualquer um por toda a parte: na internet, na TV, no cinema, nas revistas, nos outdoors espalhados pelas ruas. Com isso, o sexo está se banalizando. “A pornografia de hoje é muito mais vulgar do que era há 30 anos. Não existe senso de humor, não existe aquela transgressão de testar os limites da sociedade, porque atualmente não existem mais esses limites”, diz a jornalista americana Dian Hanson, autora da enciclopédia History of Men’s Magazine (Taschen Books, 2004).

Instrumento facilitador para quase todas as evoluções do mundo moderno, a internet está ajudando a vulgarizar o ato sexual. Sites de sexo explícito abundam em toda a rede, enquanto a onda de blogs e fotologs atiça a sanha tanto dos que gostam de observar como dos que adoram se exibir. [...] 

Alguns desses fotologs mostram garotas adolescentes beijando e se relacionando com suas amigas. Dizem ser bissexuais, embora gostem mais de meninos. A psicóloga Cláudia Barrozo, do Núcleo de Psicodrama de Goiânia, diz que esse “fenômeno” pode ter sido despertado, principalmente, pela mídia. “A TV, por exemplo, dita as novidades, lança a idéia para que as pessoas discutam e, quando isso não acontece, elas apenas reproduzem aquele comportamento. O ponto principal é perguntar: existe um espaço de discussão nas famílias?”, questiona a psicologa.

Outra novidade para as próximas décadas, segundo a escritora americana Barbara Ehrenreich, autora do livro Nickel and Dimed (Owl Books, 2002), é o monossexualismo. Isso mesmo: pessoas que não querem se relacionar sexualmente com outras pessoas podem muito bem levar uma vida normal. Podem, inclusive, ter filhos sem fazer sexo, graças às novas técnicas de reprodução assistida. As mulheres já podem recorrer a um banco de sêmens e engravidar sem necessidade de se relacionar com homens. E os homens monossexuais poderão, no futuro, ter um banco de óvulos congelados à sua disposição – é verdade que, pelo menos por um bom tempo, eles ainda vão depender de uma “barriga de aluguel” para aumentar a prole.

Mas onde vamos parar com tudo isso? Qual será a grande mudança no comportamento sexual na próxima década? “A grande revolução será no âmbito da aceitação. A sociedade vai aceitar melhor as diferenças, o sexo sem culpa, o prazer para homens e mulheres. Essa, sim, será a grande mudança”, diz a sexóloga Carmita Abdo. Já a jornalista Dian Hanson acha que, no final, tudo continuará na mesma. “O sexo no futuro será basicamente como é no presente e como foi no passado”, afirma. “A maioria sempre vai buscar o compromisso, o casamento, a monogamia. Existe uma coisa que não muda, apesar da tecnologia: o amor.” [...]


[HR] Aceitação à banalização sexual? Isso só me fez lembrar de uma citação de Jesus, quando Ele estava descrevendo como seria no tempo próximo à Sua 2ª vinda: "Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará". (Mateus 24:12).