Um dia depois de porta-vozes do Vaticano acusarem a mídia de "maledicências e calúnias" contra a igreja, surge novo escândalo de fundo sexual, desta vez envolvendo diretamente --e não por ocultamento-- um dos 116 cardeais que elegerão o novo papa no início do mês que vem.
O acusado, em reportagens dos jornais britânicos "Guardian" e "Observer", é Keith O'Brien, 74 anos, arcebispo de Saint Andrews e Edimburgo, na Escócia, o mesmo que na véspera dissera à BBC que a igreja deveria pôr fim ao celibato para sacerdotes, porque Jesus nunca se manifestou a respeito.
Três sacerdotes e um ex-padre acusaram O'Brien de "comportamento inapropriado". Os supostos fatos ocorreram nos anos 80.
A notícia já foi levada ao papa Bento 16, segundo informação do padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, um dos que criticara a "maledicência" da mídia (o outro foi o secretário de Estado, Tarcisio Bertone).
O blog "Vatican Insider", do jornal "La Stampa", especula com a possibilidade de o papa cassar o direito de voto de O'Brien, hipótese que parece exagerada.
Na sexta-feira, Juan Arieta, especialista em legislação da igreja, deixara claro em entrevista coletiva que mesmo cardeais eventualmente condenados pela justiça humana não perdem o direito de voto, que é também uma obrigação. Explicou que essa regra vem de longe e visa evitar a influência de poderes externos sobre os conclaves.
De todo modo, O'Brien não celebrou ontem [24/02/2013] a missa dominical que deveria conduzir. Stephen Robson, o bispo que o substituiu, explicou: "Um certo número de acusações de comportamento ilegal foi feito contra o cardeal, que pediu amparo legal. Seria inadequado fazer comentários neste momento".
Acrescentou: "Não podemos não estar doloridos pelos acontecimentos das últimas 24 horas".
Nesse mesmo período de tempo, outro dos cardeais eleitores teve que dar explicações sobre casos de abusos sexuais ocorridos em sua jurisdição: o cardeal Roger Mahony prestou depoimento por três horas e meia à justiça de Los Angeles, "calmo e em pleno controle da situação", segundo seu advogado, Anthony De Marco.