A dor física foi apenas uma pequena parte da agonia do amado Filho de Deus enquanto permanecia pendurado na cruz. Os pecados do mundo estavam sobre Ele, assim como o senso da ira do Seu Pai contra o pecador, enquanto Ele sofria o castigo da lei. Era isto que Lhe esmagava a alma divina. Foi o ocultar-se o semblante do Pai – o sentimento de que o Seu próprio e amado Pai O tinha abandonado enquanto bebia o cálice que o pecador totalmente merecia – que trouxe desespero à Sua alma. A separação causada pelo pecado entre Deus e o homem foi plenamente compreendida e vivamente sentida pelo inocente e sofredor Homem do Calvário. Ele foi oprimido pelos poderes das trevas, e não tinha nem um só raio de luz para iluminar o futuro. A Sua agonia mental neste relato foi tão grande que o homem pode apenas ter uma leve compreensão dela.
No Seu último conflito, Jesus sentiu o poder de Satanás, que se declarava superior em força ao Filho de Deus. Ele insinuou que Deus tinha renegado o Seu Filho, que Este já não estava sob o favor divino, mas que estava agora nas mãos do Seu grande inimigo. Cristo não cedeu ao inimigo torturador, mesmo na Sua angústia mais amarga. Legiões de anjos maus estavam à Sua volta, no entanto os anjos bons receberam ordens para não romperem as suas fileiras e envolverem-se em conflito com o escarnecedor e insultuoso adversário, nem lhes foi permitido ministrar ao espírito angustiado do sofredor divino. Foi nesta terrível hora de trevas, em que a face do Pai estava oculta, legiões de anjos mais O envolviam e tinha os pecados do mundo sobre Ele que, dos Seus pálidos lábios, foram arrancadas as palavras: “Deus Meu, Deus Meu, porque Me desamparaste?” (Mat. 27:46).
Quando se encara corretamente a expiação, quando compreendemos o grande preço que foi pago para resgatar o homem pecador da morte eterna, a salvação das almas será sentida como tendo um valor infinito. Em comparação com o valor da vida eterna, tudo o resto fica reduzido à insignificância. Porém, como os conselhos do nosso amoroso Salvador têm sido desprezados! Em muitos casos as afeições do coração estão dedicadas ao mundo, e os interesses egoístas fecharam a porta ao Filho de Deus. A hipocrisia vazia e o orgulho, o egoísmo e o amor ao lucro, a inveja, a malícia e a paixão enchem de tal forma o coração que Cristo deixa de ter espaço.
Deveríamos adotar perspetivas maiores, mais amplas e mais profundas da vida, do sofrimento e da morte do Filho de Deus. Ele era eternamente rico; no entanto, para nosso bem, tornou-Se pobre, para que pela Sua pobreza pudéssemos tornar-nos ricos. Ele estava revestido de luz e glória, rodeado pelas cortes de anjos celestiais que esperavam para executar as Suas ordens; no entanto, assumiu a nossa natureza e veio para andar entre homens pecadores.
(Ellen G. White, The Bible Echo, 1 de janeiro de 1887)
Oh, nunca houve um sofrimento e uma dor como os que o Salvador moribundo suportou! Foi o senso do desagrado do Pai que tornou o Seu cálice tão amargo. Não foi o sofrimento físico que pôs um fim tão rápido à vida de Cristo na cruz. Foi o peso esmagador dos pecados do mundo, e o senso da ira do Seu Pai que Lhe partiu o coração. A glória do Pai e a Sua presença sustentadora tinham-n’O abandonado e o desespero pressionava sobre Ele o seu peso esmagador de trevas, arrancando-Lhe dos pálidos e trémulos lábios o angustioso clamor: "Deus Meu, Deus Meu, porque Me desamparaste?" (Mat. 27:46).
(Ellen G. White, Signs of the Times, 21 de agosto de 1879)