Substituir o leite de uma criança pelo tipo desnatado, com o objetivo de evitar que ela ganhe peso em excesso ao longo da infância, pode não surtir o efeito desejado. É o que concluiu um estudo da Universidade de Virginia, nos Estados Unidos. A pesquisa mostra que o efeito, na verdade, pode ser o inverso — após avaliarem mais de 10.000 crianças num período que se estendeu entre os dois e os quatro anos de idade, os autores do trabalho observaram que o consumo do leite desnatado era mais comum entre as que estavam acima do peso.
As conclusões, publicadas nesta segunda-feira no periódico Archieves of Disease in Childhood, vão contra as recomendações de entidades médicas, como a Associação Americana de Pediatria, que sugerem que as crianças passem a tomar leite com baixo teor de gordura depois dos dois anos de idade. O objetivo da indicação é que elas reduzam a ingestão de gordura saturada e evitem o ganho de peso excessivo.
De acordo com os autores, as evidências que sustentam as recomendações médicas em relação ao leite são diferentes e não possuem uma conclusão comum. Para saber de que forma o consumo do leite afeta o ganho de peso em crianças, os pesquisadores selecionaram 10.700 participantes, que foram examinados duas vezes: quando tinham dois e quatro anos de idade. Os pais dessas crianças relataram se elas costumavam beber leite desnatado, semi-desnatado, integral ou de soja. Eles também informaram a equipe sobre outros hábitos alimentares de seus filhos.
Segundo os resultados da pesquisa, a prevalência de sobrepeso ou obesidade entre as crianças foi considerada alta nos dois momentos da pesquisa — os problemas afetaram cerca de um terço dos participantes tanto aos dois quanto aos quatro anos de idade.
Leite e peso — Além disso, os pesquisadores observaram que a prevalência do consumo de leite desnatado foi maior entre crianças acima do peso. Entre as crianças que apresentavam obesidade ou sobrepeso aos dois anos de idade, 14% costumavam beber leite desnatado, enquanto a bebida era consumida por apenas 9% das crianças da mesma faixa-etária que tinham peso normal. Aos quatro anos, essa prevalência foi de 16% entre crianças acima do peso e de 13% entre as de peso normal. Por outro lado, as crianças com sobrepeso ou obesidade bebiam menos leite integral, que tem maior teor de gordura, do que crianças com peso normal.
Os autores do estudo não encontraram diferenças significativas na média da tendência de ganho de peso entre crianças que bebiam leite desnatado, semi-desnatado ou integral. Para os pesquisadores, esse dado sugere que fazer com a criança passe a consumir apenas leite com baixo teor de gordura não é, de maneira geral, vantajoso. No entanto, é possível interpretar que o ganho de peso entre crianças com sobrepeso ou obesidade que tomavam leite desnatado poderia ser ainda maior caso elas consumissem o leite integral.
Os pesquisadores acreditam que uma possível explicação para essas conclusões seja o fato de a gordura presente no leite integral provocar maior saciedade, o que pode diminuir o apetite das crianças por outros alimentos calóricos e ricos em gordura. “As recomendações de controle de peso em crianças deveriam, em vez de enfatizar a substituição do leite pelo desnatado, dar mais atenção ao tempo da criança em frente à televisão, aos níveis de atividade física e a seu consumo de vegetais”, concluem os autores.
(Veja)
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