O discípulo João passou a possuir este amor divino. A influência regeneradora do Espírito Santo renovou o seu coração. Ele ficou sob o poder do amor de Cristo, e o conhecimento deste amor despertou uma profunda afeição que, pela sua infusão através do seu coração, operou uma transformação de caráter. A calorosa afeição de João não era a causa do amor de Cristo por ele. O Salvador tinha-o amado antes de existir esta afeição, mas a bondade imerecida do seu Senhor tinha despertado amor no coração do discípulo.
O caráter natural de João estava marcado com imperfeições. Ele era impetuoso e ressentia as ofensas. Quando os Samaritanos recusaram receber o seu Senhor, porque pensavam que Ele favorecia mais os Judeus do que a eles, João pretendia que o insulto recebesse retribuição imediata. O seu espírito estava agitado com vingança, e disse ao Mestre: “Queres que digamos que desça fogo do Céu e os consuma, como Elias também fez?” Jesus olhou para João e respondeu: “Vós não sabeis de que espírito sois, porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las” (Luc. 9:54-56).
A opinião dominante de que João tinha um caráter naturalmente manso e complacente cai por terra quando se faz um estudo da sua vida. Ele tinha altas aspirações para ser o primeiro no reino de Cristo. Ele tinha categoricamente repreendido alguém que estava a expulsar demônios no nome de Jesus, porque ele não estava na sua companhia. Tinha fortes traços de caráter, não era fraco e indeciso, mas autoconfiante e ambicionando honras. Jesus ensinou as necessárias lições de humildade e paciência. Manifestou, em contraste com o espírito violento de João, calma consideração e paciência. João era aluno na escola de Cristo. À medida que o caráter do Divino se manifestava nele, viu a sua própria deficiência e humilhou-se com esse conhecimento. A força e a paciência, o poder e a ternura, a majestade e a mansidão, que ele contemplava na vida diária do Filho de Deus, enchia a sua alma de admiração e amor; mas ele não era simplesmente um admirador – ele mostrava o seu apreço, ao imitar as características divinas do seu Senhor. Entregou o seu temperamento vingativo, ambicioso ao poder modelador do Espírito de Cristo. Ele decidiu copiar o Modelo de amor e tornar-se como Aquele que é manso e humilde de coração.
(Ellen G. White, Signs of the Times, 13 de janeiro de 1888)