Uma pesquisa científica pioneira realizada pela USP (Universidade de São Paulo), que vem analisando o estilo de vida de membros da denominação no Brasil com idade entre 35 e 74 anos, promete trazer contribuições importantes para a saúde pública no Brasil.
Trata-se do Estudo ADVENTO (Análise de Dieta e Hábitos de Vida na Prevenção de Eventos Cardiovasculares em Adventistas do Sétimo Dia), financiado pela USP, Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e Incor (Instituto do Coração), e apoiada institucionalmente pela organização adventista. Embora os resultados ainda sejam preliminares, o estudo já mostrou menores níveis de colesterol, glicose, creatinina e marcadores inflamatórios nos indivíduos que têm um maior número de hábitos saudáveis, como dieta vegetariana ou mais próxima do que recomenda a Igreja Adventista.
O coordenador geral da pesquisa é o cardiologista do Incor do Hospital das Clínicas da USP e chefe da UTI do Hospital Adventista de São Paulo, Everton Padilha Gomes. Segundo ele, o estudo, proposto em sua tese doutoral, busca analisar o estilo de vida entre adventistas e compará-lo com o de uma população não pertencente à Igreja. “Este é um estudo pioneiro no Brasil por correlacionar dieta e aparecimento de aterosclerose subclínica. Graças a pesquisas semelhantes desenvolvidas em outros países, hoje se sabe, por exemplo, da importância de cuidados à pressão arterial e à dieta para a prevenção dessas doenças”, explica Gomes.
Além da dieta, a pesquisa clínica leva em conta também outros hábitos de vida, a exemplo de tabagismo e etilismo passado, bem como o estado psicossocial, padrões de desempenho neuro-cognitivo e capital social (capacidade de assistência ou rede de solidariedade que uma pessoa possa contar).
No total, 1.500 adventistas serão pesquisados, divididos em três grupos: 700 ovolactovegetarianos, 300 vegetarianos estritos e 500 não-vegetarianos.
Parcerias
Diante das possíveis contribuições do estudo para a saúde pública no País, o objeto de estudo vem despertando o interesse de outros grupos de pesquisa. “Pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo também já começaram a desenvolver estudo semelhante”, informa.
De acordo com o coordenador geral do Estudo ADVENTO, no decorrer da investigação vem surgindo também parcerias com o setor privado. “A empresa de cosméticos Natura, que conta com um setor voltado para pesquisas, doou equipamentos para que analisemos também a pele dos adventistas”, ressalta.
Para a realização da pesquisa, a universidade brasileira firmou ainda um convênio técnico com a Loma Linda University, nos Estados Unidos, que acaba de divulgar os resultados de um segundo estudo científico de longo prazo, o Loma Linda University Adventist Health Study-2 (AHS-2), que concluiu que aqueles que são vegetarianos têm menos risco de doença cardíaca, em comparação com aqueles que comem carne.
O AHS-2 pesquisou 96 mil indivíduos dos Estados Unidos e Canadá. O primeiro, denominado AHS-1, foi realizado entre 1974 e 1988 e, a partir do exame da saúde de mais de 34 mil adventistas na Califórnia, Estados Unidos, concluiu que o grupo examinado vivia mais que os demais habitantes da região.
Foco das atenções
Segundo acredita o pesquisador, a sobrecarga no sistema público de saúde desperta cada vez mais o interesse de organizações governamentais e privadas em pesquisar grupos que estão mais próximos daquilo que a sociedade médica recomenda para uma melhor saúde, adotando hábitos efetivos na prevenção de doenças. Por isso, grupos como os adventistas tem se tornado foco das atenções.
Site da pesquisa
O Estudo ADVENTO conta com uma página oficial na internet que traz informações sobre seus objetivos e onde também são respondidas dúvidas dos internautas e esclarecidas questões alusivas aos métodos e procedimentos adotados para a coleta de dados, bem como em relação a quem pode fazer parte do grupo considerado.
De acordo com o médico, ainda estão sendo admitidos adventistas dos Estados de São Paulo e Espírito Santo para participarem do grupo que será analisado.